Há um limite, é tênue, mas há um limite. Eu não duvido da existência dessa fronteira. Algumas pessoas têm um dom especial: circular sempre em torno dessa marca instável e fugidia. Uma colega amanheceu muito propositiva. Foi dormir inspirada pela leitura do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Achando que fazia grande coisa, comprou a obra original e completa para a filhota de seis anos. Logo descobriu que é uma leitura "um pouco difícil para alguém recém-alfabetizado". Resolveu ajudar e começou a ler para a criança. Escandalizou-se. Ficou chocada com o tratamento dado às questões ambientais, de gênero e étnicas. Dizer o que? (Pois-é!" Por que não le Juddy Moody para ela?) Não bastou. Ela estava inspirada! "Sabe, eu pensei..." (Sempre que ouço esse tipo de introdução em discurso, respiro fundo e me preparo, porque lá vem bomba!) "... que poderíamos fazer um re-apresentação contextualizada dessa obra tão importante. É um símbolo da nossa literatura infantil, mas está muito divergente, descontextualizada, em relação aos valores contemporâneos ...." Chegou mais gente, fui me afastando, ouvindo o discurso aumentar em entusiasmo. Deve ter conseguido algumas adeptas-ineptas-tagarelas que disseminarão a ideia pelos corredores durante o restinho de semana. Agora estou aqui, tentando me livrar da vontade de pensar se a dimensão da ignorância move ou não a fronteira da inocência e, principalmente, esquecer a musiquinha do Sítio do Pica-pau amarelo. Pelo jeito, vou passar o dia com ba-na-na-da de goiaba, goiabada de marmelo, Sítio do Pica Pauuuuu amareeeeeeeeeelô,
Sítio do Pica Pauuu amareeeeeeeeeeeelooooooo...
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