Manhã escalafobética

Já não é mais questão de gostar ou não. Houve uma ruptura na realidade. Não fosse o sol preenchendo o estacionamento, o vento me escabelando e o alarme do carro que disparou, poderia jurar que estava entrando em outra dimensão. Tipo: abriu-se um portal na frente do prédio e alguém passou por ele. A decisão difícil seria: eu ou ela? Sim, porque vintage é moda por aqui. Já passou de tendência. Chegou nas ruas, em estampas e cortes. Mas não nesses níveis. Mistura de estampas? Também agora é moda de rua, mas nunca em tamanha profusão. Entrei pensando: foi o acaso que fez isso? Que coisa incrível! Do cabelo ao pé, passando pelas unhas... Sim, eu reparei quando pegávamos as chaves na portaria. Unhas pintadas em "oncinha". Nos olhamos (a moça da portaria e eu) com um olhar de que-quié-isso. Ela chegou depois. Andar com pantalonas e salto, mesmo que seja anabela, é coisa para fazer com lentidão. Nos deu bom dia, toda alegrinha e tagarela, mas sem parecer surtada. Subiu a escada oposta à minha com alguma dificuldade - até decidir levantar, como se fosse um vestido longo, as pernas das calças...